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Mostrando postagens de 2009

Ninguém do outro lado

  "Penso: quando você não tem amor, você ainda tem as estradas." [Caio Fernando Abreu] Ninguém do outro lado da cama, nem da linha telefônica, nem do outro lado da rua. Ninguém do outro lado da parede. Ninguém. Ninguém do outro lado dos meus sonhos, e dos meus pesadelos, nem do outro lado da verdade. Ninguém do outro lado das sombras, ninguém do outro lado da luz. Ninguém do outro lado da esperança, da confiança, da parceria de dança, Ninguém. Ninguém do outro lado da casa, nem do outro lado da nuvem, nem do outro lado de mim. Eu, do outro lado do espelho. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ "Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia." [Cai

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Um instrumento tão belo só se realiza nas mãos de quem o saiba tocar. Drika Gomes

Abri a porta

Não me hospedo mais, não cobro minhas visitas. Saio de mim e levo a chave, volto quando quero. Sou mais minha do que nunca. [Lele Siedschlag ] Ela sentiu que a falta de caminho era um ponto de vista, mudou o foco, pulou o obstáculo, transpassou aquele muro que a dividia e se pôs de pé, olhou para o alto e viu claro e nítido aquele horizonte antes adormecido, agora tinha sobre ela os olhos bem abertos e reluzentes. Respirou fundo, estendeu os braços e se deixou voar… O mundo já não a vê como igual porque ela está diferente. Ali inteira, com a mais completa visão de um futuro que à espera, ela planeja cada passo, cada gesto, cada mínimo detalhe de um novo percurso, onde há chão, onde há flores e certamente espinhos, mas agora ela aprendeu a colher as rosas.       De vento em poupa, de malas prontas, de gestos firmes, vai na direção do que não sabe, mas pressente. É onde gostaria de ir, é a porta que ela mesma abriu e teve a coragem de deixar para trás tod

E no reino da fantasia…

(…)Tinha serenidade porque não encontrava outro sentimento para colocar em seu lugar. Não havia estômago para chegar ao fim da esperança. Não estava escuro para me defender com vela, muito menos claro para procurar sombras. Conhecia de cor o ato de contrição, apesar da dificuldade de inventar pecados. A humildade lembrava covardia, o que explica minha vontade insana de fazer calar esse tempo, o meu tempo de camisa fechada até o último botão. [Fabrício Carpinejar]   …Por isso ela invadiu os espaços, abriu passagens, rasgou vãos e arrancou a blusa como quem se despe da própria pele. Nua, ela é viva em carne, força, brilho e cor. A louca, a irreverente, a mais negra das ovelhas. Ela que inflama outro corpo num olhar e afoga sonhos alheios no desenho da boca. Brotaram uns espinhos vermelhos na rosa entre suas pernas. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois d

À espera das ondas…

  "EU - Você gosta de mar? ELA - Gosto. Parece uma coisa que eu sinto às vezes por dentro...'' ( Caio Fernando Abreu )   Ela, cansada de olhar pela janela, viu que o mar é muito mais interessante de perto e que as águas cantam seu nome num ritmo que faz seu coração sentir que é sereia. Drika Gomes

Sensações…

  É aqui na ponta dos pés… um bailando levemente ou um pisando com cautela? Como saber a exatidão que um gesto revela? Drika Gomes

Telhado de vidro

  Caiu um pouco de realidade aqui no meu telhado de ilusão. Quando olhei pra cima vi trincado. Ele ainda é de vidro. Drika Gomes

Chão… para quê te quero?

Com tanto chão para se andar, ela escolhe a falta dele. É nessa corda bamba que ela aprendeu em desequilíbrio,  que nascera com alma de trapezista. Nem importa muito terminar o caminho, é o passo a passo, pé ante pé, é o quase despencar, é o escorregar e de ponta cabeça balançar com a corda nos pés, como quem diz: Te enganei… Achou que eu fosse cair, né? Drika Gomes

Alisaram-se as ondas

Quem passou a língua e lambeu o mar? Alisaram-se as ondas… E observar aquela rocha sem a explosão das águas chocando-se, é estranho, mas é belo, uma beleza tão solitária que compara-se ao ver lenha sem fogo. Não respinga mais aqui dentro e por vezes penso ouvir gotas me chamando pela vidraça, corro, abro a janela e vejo o vôo rasante de um bem-te-vi. Drika Gomes

Pousa, que repousa…

  Já voei tanto… As penas das asas dissiparam-se com o vento. Voltei ao chão que é meu firmamento… Drika Gomes  

Eu digo sim

Sim, eu aceito. Quero seguir esse caminho que não me dá nenhuma certeza, não sei onde vai dar, não faço idéia nem de como vou caminhar, mas estou caminhando nesse chão tão impossível. De repente eu afundo, mas pode ser um mergulho que me refresque, onde eu possa pousar nas costas de um golfinho ou me apavorar fugindo de um tubarão. Seja lá como for, é um risco e eu amo viver perigosamente. Sim, eu aceito não ter asas, nem sustentação. Eu quero mesmo essa agonia batendo no peito dia e noite e não ter nenhum horizonte adiante. Tudo que me faz viva é viver de hoje tendo o amanhã como caixa de surpresa que abrirei no tempo certo. Sim, eu aceito essa constância inconstante, essa brisa norte-sul que me arrepia a pele, esse medo palpitante que instiga minhas células e todo esse azul dos seus olhos que me afoga e me faz flutuar. Sim, eu aceito, mesmo porque já havia concordado muito antes de pedir-me, desde o dia em que minha alma grudou na sua porque achou que você era o céu do m

Flores

  Perdoe meu excesso de flores, é que agora é primavera e meu jardim vai crescendo num descontrole espantoso. Páro e observo a flor brotando daquele pedaço de rocha.   Drika Gomes

Duas faces

É porque eu sinto o coração como se dentro houvesse uma sinfonia de tambores tocando num tom harmônico que saem dos meus olhos essas faíscas e da minha voz essas nuvens com pingos de até-quando-isso-vai-durar? E é porque você encontrou dentro de mim o caminho que me levava àquela casinha feita dos meus risos de criança, do cheirinho de pão assando no forno, do circo, do balanço e do pular cordas que eu fiquei assim com essa cara de quem quer bater asas porque pensa que é borboleta. É porque de tanto me levar pro inferno, me habituei com com aqueles monstros e tormentos que me esqueci de como era o paraíso, e agora? Os anjos me cercam falam uma língua da qual não tenho intimidade, isso às vezes é tão confuso que sinto uma saudadezinha mórbida de dar uma olhada lá no buraco da fechadura do inferno. É porque uma estranheza doce tomou conta do meu chão áspero e eu me sinto escorregar, sim, é gostoso, confesso, mas dá um medo! É porque esse fogo que ardia tão cripitante me tirava o sono e

Entre o riso e a lágrima

  Às vezes me esqueço que, em meio aos risos, tenho andado com uma lágrima escondida nos cantos dos olhos. Porque nesse trajeto de ser feliz, vez em quando, a gente num piscar de olhos, derrapa numa curva onde chove e molha o olhar com alguma tristeza. Drika Gomes

Sei que cada palavra importa…

É preciso cuidar, com uma delicadeza tamanha que exige mais sabedoria do que coração. É preciso estar atenta aos gestos, os mais minúsculos… Ah esses, são os mais importantes. É preciso desacelerar o ritmo lentamente antes de uma parada, para que não seja brusca, para que não faça desequilibrar o cristal sobre a estante. É preciso antes de falar, imaginar suas palavras viajando rumo a um outro ouvido e ter a sensibilidade de perceber o impacto, a percepção… observar a vibração das ondas que causa a pedrinha atirada no lago. É preciso ter cuidado. É preciso um suspiro, uma pausa, uma respiração profunda nos instantes que antecedem o toque, para que seja suave, para que preserve inabalado o conteúdo do frasco -  é preciosidade. É preciso saber dosar com cautela, cada passo, cada espaço, cada canto do olhar porque num simples descuido, tudo vem ao chão. É preciso que exista dentro do peito um

How could I ?

  E você me veio com um jeito tão meigo de quem sabe o que quer, impossível não ver-te em mim.  Ofertou-me sem medidas o presente mais precioso que alguém pode receber – E eu, como poderei negá-lo? Drika Gomes  

Quero…

    Eu quero um sabor de fruta madura e que me escorra pela boca o sumo. E dái? Não me importo com a lambança, adoro brincar de ser criança. Eu quero rolar pela areia da praia, fazer de mim uma mulher à milanesa, com o cheiro do sal, na temperatura do sol e correr fugindo do calor que queima os pés. Me jogar nas ondas e fazer do azul do mar, meu céu onde não preciso de asas. Eu quero uns mil quilos de sorrisos para soltar nos ares como fogos de artifício e que deles multipliquem-se balões coloridos que flutuam enfeitando as nuvens.   Eu quero forrar esse piso de vidro com pétalas das rosas do nosso jardim, pisando descalça, pois minha leveza é como a dos pássaros que ganham o infinito. Eu quero caminhar soltando o coração por onde eu passe e quando em algum momento quiser olhar para trás, possa ver um rastro vermelho com perfume de verdade.   Drika Gomes

Por causa de você perdi o tom…

  O que é que você tem? O que é que você tem? Aqui dentro tudo misturado, a ventania deu as mãos à todas essas interrogações e me levam junto. Sinto-me nesse redemoinho tentando me agarrar a alguma coisa que me dê o chão, mas ao mesmo tempo, é tão bom esse frio na barriga… Drika Gomes

Cheiro de paraíso

Aquele sussurro repentino amoleceu -me a casca. Foi despindo-me lentamente porque lá  já era quente e não mais cabia tanto  de mim do lado de dentro. Rasguei-me para florir. O botão precisa das pétalas para que a rosa exale …  A flor se encanta ao ser tocada docemente e se emociona quando nela reflete-se um olhar de puro amor. Será que ainda repouso a cabeça nessa almofada de plumas? Alguém me fez dormir e sonho que estou acordada, ou será que acordei e penso estar sonhando? Há aqui um cheiro tão suave de paraíso… Ouço harpas ecoando no coração e eu tenho tanto medo de abrir os olhos. Drika Gomes  

Depois da curva…

Tenho confusões… Invasões, algo de indescritível me faz arrepiar, algo que desconheço. É uma curva sinuosa de bela paisagem e não sei o que existe ali adiante, mas certamente só pode ser lindo… Fica o pressentimento e o fogo que acende nesse vento com perfume de mulher, fica essa imagem de delicadeza, sensualidade e sedução. E o que vem depois da curva? Por enquanto é sonho… Drika Gomes

Ao sabor do vento…

Enquanto o vento soprar suave, me deixo ser folha… Já fiquei petrificada por tempo demais. Amo como quem salta de um precipício sorrindo… Uns dizem ser loucura, ah… mas só os loucos fazem o que mais ninguém faz. Drika Gomes “A vida exige leveza, assim como a viagem. A estrada fica mais bonita quando podemos olhá-la sem o peso de malas nas mãos.” Pe. Fábio de Melo

Vem brincar comigo?

    A menina cresceu, virou mulher, não teve escolha. Destrambelhada, aprendeu o ritmo, os pés descalços usam salto alto, a boca lambuzada de doce agora tem batom, as bochechas rosadas ganharam pó de arroz. Ganhou muita experiência, perdeu muito da inocência. Seus vestidos rodados cor-de-rosa deram lugar aos tubinhos pretos. Aprendeu que os meninos bobos de antes continuam tão bobos quanto e que as meninas lindas e malvadas continuam malvadas, mas feias. Aprendeu que quando se é criança tudo parece maior e mágico, mas quando se torna adulto a magia só desaparece se nos tornamos pequenos.   Aprendeu quando criança a brincar de ser mulher   e hoje, mulher feita, brinca de ser menina.   Drika Gomes “Sou uma mulher madura, que às vezes brinca de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes anda de salto alto.” Martha Medeiros

Apenas um regaço…

Travei tantas guerras, cheguei do campo de batalha faz pouco tempo. Guardei a pesada armadura e minha espada mandei polir. Vim à procura de regaço, aconchego, de um abraço que me acolha e me diga que é hora de recostar minha cabeça numa almofada de plumas… E por favor, não me acordem. Sei que ontem já é tempo de ir… Sinto falta de um abraço onde se encaixe meu coração encolhido, onde ele encontre espaço para crescer sem medo de ser ferido. Sinto falta daquilo que tornou-se ausência, os recantos frios estão cristalizando, esse gelo me encasula. Drika Gomes

O que é mais difícil? Libertar ou libertar-se?

  Mantendo os olhos e os punhos cerrados prendeu firme entre os dedos como se pudesse reter um pedaço de sonho,  sentia a dor  que rasgava-lhe a pele, mas ela não sabia o que sangrava… sempre teve o coração na mão. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ E assim, já cansada de unir forças construindo grades, apontando espadas e vendo seu próprio sangue derramar-se em vão… ¨ Libertou-se das amarras que a condenavam carcereira do inaprisionável. . . . Estou me deixando ir… Que o vento sopre e leve embora o que puder ser levado, se nada sobrar é porque nunca houve aqui o que realmente fizesse algum sentido. Drika Gomes

O delicado de uma flor…

  Nas curvas e saliências, duas formas a se encaixar como serpentes enroscadas num mesmo laço de prazer. Se adivinham em toques onde reconhecem a própria essência, mulher. Drika Gomes   Sim é devagar, nada rápido, nada bruto e mesmo o bruto de uma mulher é o delicado de uma flor… por saber aonde deve tocar, quando deve parar… e como deve fazer a cada tripidação do corpo da outra… Se conhece o corpo, os cantos, as curvas… Com a ponta da lingua não com a ponta do dedo… Anne

E a tempestade levou…

É maravilhosa a sensação de reencontro, principalmente quando se trata de um reencontro consigo mesma, com aquela sua parte antes trancafiada, amargurada e esquecida. É um resgate da sua essência e isso não tem preço. A liberdade de dentro nem se compara à de fora. Ser você mesma, sem amarras, sem medos, sem mistérios, sem julgamentos e saber que é assim que Deus te fez e assim deve permanecer porque o único meio de ser feliz é sendo COMPLETA. Pequenos pedaços espatifados, cantos trincados, até o chão se partia, eu nem sabia que ruía… Tremia meu alicerce, que gemia. Drika Gomes “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” Clarice Lispector ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ Benditas tempestades que levam na enxurrada os rebocos gastos e as telhas mal pregadas, nos fazem enxergar o que verdadeira

Palágrimas…

Me sinto tão cheia, aqui dentro tempestades e trovões, que preciso escorregar algumas nuvens do peito para fazer chover nos meus dedos. Drika Gomes São estas minhas palágrimas, O que os meus olhos não derramam, as minhas mãos choram. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨   Travei batalhas nesse campo de areia movediça, não me importa quem saiu vencedor, depois de tanta dor minha alma espreguiça. Drika Gomes   Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada. (muito cansada) Clarice Lispector

A última folha…

  É chegada uma hora em que as estações terminam. O outono veio com seus ventos e foi derrubando folha a folha. O chão ficou repleto de suas quedas. Folhas secas. Mortas, mas prontas para uma nova etapa de vida. Caiu a última folha dessa árvore chamada dor. Deixei-a cair levemente levando consigo todas as expectativas frustradas, todas as longas esperas, todas as decepções somatizadas. Os galhos estão secos. Acabou. Foi-se a última lágrima doída, espessa, ferida, aquela exprimida até o limite do último sal. Rolou. Com ela deixei ir todos as declarações nunca ditas, todos os afetos nunca feitos, todos os presentes não recebidos, todos os eu te amo jamais ouvidos, todos os telefonemas esperados em vão, todas as palavras bonitas caladas. Restou ainda líquida e corrente, a seiva, mantendo a vida fluída da raíz aos galhos. Restou num suspiro o acréscimo de estima por mim mesma, por saber que depois de tudo ainda posso continuar e seguir em frente, que virão novas folhas e novas est

Essas coisas

Oi, vem, entra… Sei que deixei a porta muito tempo trancada, é que estava um tempo muito estranho lá fora, fiquei com medo de todas aquelas nuvens escuras e minha pele estava tão sensível que parecia que os ventos me atravessavam a alma, sentia tanta dor que me cansei de chorar. Senta aí, desculpa a desordem e todas essas coisas amontodas, eu as ganhei, apareceram no meu caminho e eu sem saber o que fazer delas, fui juntando. Olha só como a casa está repleta de quinquilharias! Me tranquei aqui para me preservar e de repente começaram a surgir, através das paredes, essas coisas. Quer beber algo? A verdade é que a única bebida que tenho aqui é esse líquido verde, mata a sede, mas é amargo. Não tenho nada doce e nem mesmo insípido para oferecer. Por favor, não toque em nada, tudo aqui é muito frágil. Ontem mesmo destruí uma janela ao tentar abri-la  e a dor que eu senti foi intensa. Não entendi como pude sentir isso, não consigo entender essas coisas.

Don’t worry, be happy…

Amo caminhar na praia, sentir a areia tocando meus pés, sentir o cheiro do mar trazido pela brisa fresca. Gosto mais de olhar o mar do que entrar nele. Tenho um profundo respeito pelas águas e mergulhar nelas é para mim como um ritual de purificação e relaxamento. Em dias repletos de turistas, como neste feriado, não sinto o menor desejo de entrar no mar, é um amontoado de gente pulando, bebendo e fazendo farra… Melhor coisa são os dias neutros, onde a praia parece que é só minha, deserta, instantes assim sinto que o mar me convida para uma visita e sou recebida em seus braços mansos que acariciam minha pele e me renovam. Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir prá não chorar Se alguém por mim perguntar Diga que eu só vou voltar Depois que me encontrar... Cartola Gosto de caminhar sozinha, apenas eu e meus pensamentos. Em cada passo organizo minhas idéias e minhas confusões, umas engaveto, outras esmiuço, outras jogo fora. Mas em dias como o de hoje, prefiro nem sair de cas

Sabor de morango

Nem vem, não me peça, não me exija mais o caldo doce que permiti escorrer da minha alma. Meu néctar reservado e escondido. Tudo que nunca quis oferecer, que jamais permiti transparecer, agora não adoça mais. O mel petrificou no fundo do pote e não quero que derreta para que não volte a derramar-se. Deixo apenas que escape um aroma sutil lembrando a existência de uma doçura quase imperceptível. Assim como o doce que quase se sente nos perfumes cítricos, assim como o doce quase não encontado no sabor de um morango. Doçura demais enjoa. Serve para curar uma ressaca ou vira bolo de festa esquecido na geladeira. A verdade é que mel não foi feito para ser alimento de nenhum ser humano e nem é bom que as pessoas sejam melosas porque viram uma meleca grudenta que ninguém tolera por muito tempo. Azedume completo também é intragável. Não dá pra chupar limão fazendo cara de felicidade, mas se colocar um poquinho de açúcar fica com sabor de limonada e disso todo mundo gosta. Por isso que meu pote

Das coisas que eu gosto…

Cheiro de café - sendo coado logo pela manhã, humm… dá aquela vontadezinha de levantar da cama e acreditar que a vida é bela, pelo menos um pouquinho, alguns instantes que duram o tempo de levantar da cama,  fazer xixi, lavar o rosto, ir pra cozinha encher a xícara, colocar três colherinhas de açúcar, dar uma mexidinha e ir tomando os primeiros goles. Já no terceiro gole, pouco antes do café desaparecer, o encanto termina, o aroma some e a vida volta a ser como sempre foi. Me surpreender -  com coisas simples, como a lua cheia da minha janela. Visão maravilhosa, por instantes me perco a admirá-la e fico sonhando em estar bem pertinho dela, instantes que me dão vontade de voar. Esqueço dos problemas, esqueço das dores e só consigo pensar em quanta beleza existe lá bem acima de mim e não posso alcançar. Gosto de sexo -  mas não qualquer sexo, tem que ser  “O sexo”, aquele que começa num olhar e vai se estendendo com carícias, beijos envoltos num clima de roman

Conheça-te

Nós amamos espelhos. São os outros ou somos nós? Quem sou eu se sou tão você E quem pode ser você assim tão eu? Te olho e me encontro nos seus recônditos, os defeitos que escondo se escracham em você, as qualidades que e mim exalto são as que você queria ter. E assim vamos nos assistindo, Nos assumindo em espanto e ira, Nos conhecendo os cantos escuros aos sustos, Nos permitindo uma invasão que nos assalta. Quanto mais sei de você mais me acho, Quanto mais sabe de mim mais te vê. Conheça-te a ti mesmo dentro de mim. Drika Gomes

Quem é essa???

Às vezes atrevo-me a  olhar no espelho e me assusto, uma interrogação enorme aparece diante dos meus olhos – Afinal quem é esta refletida aí na frente?  Tão diferente do que eu sabia ser, uma versão minha ao avesso e totalmente aversa ao que sempre fui e fiz. Como pode acontecer isso? Quem deu força a esse vento para que passasse por mim assim tão intenso que fosse capaz de virar-me pelo avesso? E agora o que faço com essa minha face que nunca antes tinha visto, nunca antes aprendi seus gostos e desgostos, seus modos, seu sofrer e seu prazer? Quem é esse outro eu que sou obrigada a encarar todos os dias 24 horas e que me apavora de tão desconhecido que é. Ninguém me ensinou a lidar com essa mulher, ninguém me disse o que fazer desses sentimentos todos que ela tem, com essas crises de choro, com esse amor gigante que tem para oferecer ao mundo. O que eu faço com tanto amor? Nunca soube amar direito, antes , amor era o que me pediam e como eu julgava não tê-lo, não me preocupava em caçá-

De tanto me sentir sem ti, me senti.

Um dia pensei que te necessitava, que me eras como ar, que na tua falta minha garganta secacaria e que meu coração iria petrificar. Um dia pensei que eras para mim, assim como o nectar era para o beija-flor e que sem tua vida na minha eu não me seria mais. Pensava, em tua ausência, divagando em amargor por um futuro negro e inóspito, um existir semi-morto, apenas um corpo, uma carcaça onde batia um coração cadáver. Um dia pensei que sem ti eu não era De tanto me sentir sem ti, me senti. Senti que mesmo que partisse, eu permaneceria. Minha vida sem a tua vida é uma outra vida que é só minha – Entendi que os caminhos podem mudar, ficamos perdidos e confusos, mas quando deixamos de nos guiar pelo mundo e paramos apenas um instante para despencar sem receios nas profundezas das nossas entranhas, uma luz se acende no peito e então não vemos, mas sentimos, que sempre houve bem ali entranhada na alma, uma estrada, a que nascemos para seguir, a que nos foi dada como destino. E dela na maioria

Dei pra sentir saudade…

De repente dei pra sentir saudade de uma coisa que quase não tive quase nem sobrou... Restos, pequenos, picados, que neles me agarro como se fossem rastros esquecidos de alguém, passos que podem me guiar para um lugar mais além. De repente dei pra sentir saudade. Parece até que foi minha aquela vida que li naquele livro, a história que deveria ter sido minha. Quem a roubou de mim? Aquela casa, aquele quarto, aquele amor, aquele jardim... Tudo como sonhei um dia, quando criança, ali sentada na balança sonhava com a minha vida assim, igualzinha do livro que eu li, pois é, claro que roubaram de mim! De repente dei pra sentir saudade, pois agora o tempo já passou. Não tive aquela casa, nem aquele quarto, muito menos aquele amor e tão pouco aquele jardim. Minha vida não é o que eu li. Sou outra personagem de uma outra obra qualquer, talvez num livro empoeirado numa estante, distante... Mas com certeza, uma história interessante, de uma mulher que sorriu, chorou, brigou, amou, perdeu, conqui

Enroscados

. . . Essa sua sombra que me atravessa a alma - Como pode saber  tanto de mim que nem sei quem sou? - E me transpassa, me adivinha e me persegue como se eu fosse sua própria continuação, sua extensão, algo preso que fica de fora, mas  que é como se fizesse parte do seu dentro. Eu entro. Me misturo nessa fusão de eu e você e sinto-me outra. Ainda sou a mesma. Você tem as duas. Me reconheces como se olhasse seu reflexo e eu te observo como se me enxergasse pelo avesso, o meu avesso mais escondido, camuflado, mas absolutamente vivo e latejante no meu peito. Você revela meus segredos que nem contei pra mim. Somos correnteza da mesma água, vendaval nascido do mesmo sopro. Nos misturamos sem perceber que é invasão. Mas é exaustivo ser eu-você. Quero apenas ser eu mesma pura e sólida, única e inteira e andar lado a lado com o seu eu sem mim. Drika Gomes

Coisas de feminilidadde

Adoro ser mulher, feminilidade à flor da pele, instintos de fêmea, intuição. Adoro brincar de me enfeitar, como se eu fosse minha própria boneca. Faço do meu rosto minha tela de pintura e do meu corpo, meu parque de diversões. Entre vestidos, saias, calças justas, blusas e decotes, batom, sombra, secador de cabelos e pranchas, pulseiras, brincos, colares, sandálias de salto e rasteirinhas; coisas de mulher? Não. Nem toda mulher é feminina. Coisas de feminilidade. Gosto de brincar com os cabelos, com os cachos, com as mechas, com as cores. Gosto de ver-me no espelho  com o caimento das roupas e como ser uma visão sedutora mostrando não mais que o suficiente. Feminilidade é mistério. Aprecio minhas curvas, gosto das partes mais carnudas, elas que me dão a forma. Gosto de ser macia, sentir o toque da seda e do cetim de minhas camisolas e calcinhas deslizando por minha pele. Gosto de tocar-me. Gosto da curva do meu pé, dos meus dedos longos das mãos, minhas unhas... Gosto de ser mulher, ma

Será que “nós dois” ainda existe?

  Eu ando sentindo um vazio imenso dentro do meu coração, como se o amor que antes havia e que o preenchia totalmente fosse um lago que secou. E o vazio dói porque é viva a memória de que ali existia alguma coisa muito bonita e cheia de vontade de viver. É tão estranho o que sinto hoje... Desde aquela última briga, que senti - algo dentro de mim se partiu. O cristal trincado que eu tanto tentei preservar, caiu no chão de vez e tudo que me resta é a dor triste de ver os pedacinhos espalhados e me deparar com a realidade da impossibilidade do conserto. Não dá mais, é o fim gritando aos meus ouvidos em cada caquinho que nem sonho em juntar. Deixo-os ali para o tempo e o vento levar. Chega um tempo em que a tristeza cansa e vai se recolher lá no passado e de repente ela se transforma numa lembrança, vaga lembrança... E então a gente, com o coração desocupado, escolhe seguir o caminho mantendo a porta dele fechada ou não, talvez entreaberta. Acreditamos que fugir de um novo amor seja a

O peito secou

Esse peito aqui está seco, não é o seco do leite que amamenta, é o seco do sentir que acalenta. Secou. Todo o líquido quente que jorrava agora encontrou a estiagem, época de seca e está rachando, mas não me dói. Antes doía quando cheio e farto. Ficou um oco, um vazio sem veias, sem conexões nervosas, nesse buraco nasce gelo, aos poucos e o congelar me acalma, me faz forte e dona de mim. Eu quente não me pertenço. Fria sou minha, sou razão, inteligência e domínio. Quente sou vulnerável.   Drika Gomes

Minha pérola

Comecei a me fechar, pois ao me abrir além de não ser percebida, sou vulnerável. Fecho meu casco, assim não me conheces mais e evito ser machucada. Deixe-me só, agora apenas recolho todos meus gestos e modos que de tão intensos não cabem no seu mundo egoísta. Prefiro caber-me totalmente e completa em mim mesma. Ser borboleta que volta ao casulo por não encontrar espaço para voar. Ave que não bate as asas porque lhe falta o ar, arco-íris que desbota porque o deixaram de notar. Aqui dentro, fechada, sou fria, sou razão. Nada entra e nada sai, mantenho preservada minha pérola, talvez um dia a deixe sair, mas apenas, somente apenas quando souber o real valor que ela tem. Drika Gomes

Pedi ao vento

Eu pedi que um vento te trouxesse, mas nem sei se pedi direito, talvez tenha pedido tão depressa que pudesse ter atravessado as palavras, ou tão lento que entre as sílabas ficassem espaços não preenchidos, dando assim um significado outro, quem sabe totalmente inverso daquilo que eu desejava. E passou um vento, muito estranho, soprava quente e ascendente e subitamente tornava-se frio, indo em direção contrária, era como se o vento não conhecesse seu caminho. Me chamou a atenção toda aquela instabilidade, algum encanto mesmo que insano tomou conta do meu olhar e dos meus sentidos. Fui invadida. Permiti. Me perdi. Descobri com o tempo que andar perdida é minha forma mais confusa de me encontrar e ao teu lado vou me perdendo e me encontrando num ritmo de valsa e muitas vezes de salsa, mas sempre num movimento constante que não permite que meu peito sossegue, nem que meus pensamentos repousem por um tempo que me faça entediar. Sei lá, vai ver que eu pedi certo ao vento, pois de alguma form