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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Ninguém do outro lado

  "Penso: quando você não tem amor, você ainda tem as estradas." [Caio Fernando Abreu] Ninguém do outro lado da cama, nem da linha telefônica, nem do outro lado da rua. Ninguém do outro lado da parede. Ninguém. Ninguém do outro lado dos meus sonhos, e dos meus pesadelos, nem do outro lado da verdade. Ninguém do outro lado das sombras, ninguém do outro lado da luz. Ninguém do outro lado da esperança, da confiança, da parceria de dança, Ninguém. Ninguém do outro lado da casa, nem do outro lado da nuvem, nem do outro lado de mim. Eu, do outro lado do espelho. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ "Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia." [Cai

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Um instrumento tão belo só se realiza nas mãos de quem o saiba tocar. Drika Gomes

Abri a porta

Não me hospedo mais, não cobro minhas visitas. Saio de mim e levo a chave, volto quando quero. Sou mais minha do que nunca. [Lele Siedschlag ] Ela sentiu que a falta de caminho era um ponto de vista, mudou o foco, pulou o obstáculo, transpassou aquele muro que a dividia e se pôs de pé, olhou para o alto e viu claro e nítido aquele horizonte antes adormecido, agora tinha sobre ela os olhos bem abertos e reluzentes. Respirou fundo, estendeu os braços e se deixou voar… O mundo já não a vê como igual porque ela está diferente. Ali inteira, com a mais completa visão de um futuro que à espera, ela planeja cada passo, cada gesto, cada mínimo detalhe de um novo percurso, onde há chão, onde há flores e certamente espinhos, mas agora ela aprendeu a colher as rosas.       De vento em poupa, de malas prontas, de gestos firmes, vai na direção do que não sabe, mas pressente. É onde gostaria de ir, é a porta que ela mesma abriu e teve a coragem de deixar para trás tod

E no reino da fantasia…

(…)Tinha serenidade porque não encontrava outro sentimento para colocar em seu lugar. Não havia estômago para chegar ao fim da esperança. Não estava escuro para me defender com vela, muito menos claro para procurar sombras. Conhecia de cor o ato de contrição, apesar da dificuldade de inventar pecados. A humildade lembrava covardia, o que explica minha vontade insana de fazer calar esse tempo, o meu tempo de camisa fechada até o último botão. [Fabrício Carpinejar]   …Por isso ela invadiu os espaços, abriu passagens, rasgou vãos e arrancou a blusa como quem se despe da própria pele. Nua, ela é viva em carne, força, brilho e cor. A louca, a irreverente, a mais negra das ovelhas. Ela que inflama outro corpo num olhar e afoga sonhos alheios no desenho da boca. Brotaram uns espinhos vermelhos na rosa entre suas pernas. Drika Gomes ¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨ E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois d

À espera das ondas…

  "EU - Você gosta de mar? ELA - Gosto. Parece uma coisa que eu sinto às vezes por dentro...'' ( Caio Fernando Abreu )   Ela, cansada de olhar pela janela, viu que o mar é muito mais interessante de perto e que as águas cantam seu nome num ritmo que faz seu coração sentir que é sereia. Drika Gomes

Sensações…

  É aqui na ponta dos pés… um bailando levemente ou um pisando com cautela? Como saber a exatidão que um gesto revela? Drika Gomes

Telhado de vidro

  Caiu um pouco de realidade aqui no meu telhado de ilusão. Quando olhei pra cima vi trincado. Ele ainda é de vidro. Drika Gomes

Chão… para quê te quero?

Com tanto chão para se andar, ela escolhe a falta dele. É nessa corda bamba que ela aprendeu em desequilíbrio,  que nascera com alma de trapezista. Nem importa muito terminar o caminho, é o passo a passo, pé ante pé, é o quase despencar, é o escorregar e de ponta cabeça balançar com a corda nos pés, como quem diz: Te enganei… Achou que eu fosse cair, né? Drika Gomes

Alisaram-se as ondas

Quem passou a língua e lambeu o mar? Alisaram-se as ondas… E observar aquela rocha sem a explosão das águas chocando-se, é estranho, mas é belo, uma beleza tão solitária que compara-se ao ver lenha sem fogo. Não respinga mais aqui dentro e por vezes penso ouvir gotas me chamando pela vidraça, corro, abro a janela e vejo o vôo rasante de um bem-te-vi. Drika Gomes

Pousa, que repousa…

  Já voei tanto… As penas das asas dissiparam-se com o vento. Voltei ao chão que é meu firmamento… Drika Gomes  

Eu digo sim

Sim, eu aceito. Quero seguir esse caminho que não me dá nenhuma certeza, não sei onde vai dar, não faço idéia nem de como vou caminhar, mas estou caminhando nesse chão tão impossível. De repente eu afundo, mas pode ser um mergulho que me refresque, onde eu possa pousar nas costas de um golfinho ou me apavorar fugindo de um tubarão. Seja lá como for, é um risco e eu amo viver perigosamente. Sim, eu aceito não ter asas, nem sustentação. Eu quero mesmo essa agonia batendo no peito dia e noite e não ter nenhum horizonte adiante. Tudo que me faz viva é viver de hoje tendo o amanhã como caixa de surpresa que abrirei no tempo certo. Sim, eu aceito essa constância inconstante, essa brisa norte-sul que me arrepia a pele, esse medo palpitante que instiga minhas células e todo esse azul dos seus olhos que me afoga e me faz flutuar. Sim, eu aceito, mesmo porque já havia concordado muito antes de pedir-me, desde o dia em que minha alma grudou na sua porque achou que você era o céu do m

Flores

  Perdoe meu excesso de flores, é que agora é primavera e meu jardim vai crescendo num descontrole espantoso. Páro e observo a flor brotando daquele pedaço de rocha.   Drika Gomes

Duas faces

É porque eu sinto o coração como se dentro houvesse uma sinfonia de tambores tocando num tom harmônico que saem dos meus olhos essas faíscas e da minha voz essas nuvens com pingos de até-quando-isso-vai-durar? E é porque você encontrou dentro de mim o caminho que me levava àquela casinha feita dos meus risos de criança, do cheirinho de pão assando no forno, do circo, do balanço e do pular cordas que eu fiquei assim com essa cara de quem quer bater asas porque pensa que é borboleta. É porque de tanto me levar pro inferno, me habituei com com aqueles monstros e tormentos que me esqueci de como era o paraíso, e agora? Os anjos me cercam falam uma língua da qual não tenho intimidade, isso às vezes é tão confuso que sinto uma saudadezinha mórbida de dar uma olhada lá no buraco da fechadura do inferno. É porque uma estranheza doce tomou conta do meu chão áspero e eu me sinto escorregar, sim, é gostoso, confesso, mas dá um medo! É porque esse fogo que ardia tão cripitante me tirava o sono e

Entre o riso e a lágrima

  Às vezes me esqueço que, em meio aos risos, tenho andado com uma lágrima escondida nos cantos dos olhos. Porque nesse trajeto de ser feliz, vez em quando, a gente num piscar de olhos, derrapa numa curva onde chove e molha o olhar com alguma tristeza. Drika Gomes

Sei que cada palavra importa…

É preciso cuidar, com uma delicadeza tamanha que exige mais sabedoria do que coração. É preciso estar atenta aos gestos, os mais minúsculos… Ah esses, são os mais importantes. É preciso desacelerar o ritmo lentamente antes de uma parada, para que não seja brusca, para que não faça desequilibrar o cristal sobre a estante. É preciso antes de falar, imaginar suas palavras viajando rumo a um outro ouvido e ter a sensibilidade de perceber o impacto, a percepção… observar a vibração das ondas que causa a pedrinha atirada no lago. É preciso ter cuidado. É preciso um suspiro, uma pausa, uma respiração profunda nos instantes que antecedem o toque, para que seja suave, para que preserve inabalado o conteúdo do frasco -  é preciosidade. É preciso saber dosar com cautela, cada passo, cada espaço, cada canto do olhar porque num simples descuido, tudo vem ao chão. É preciso que exista dentro do peito um