Às vezes atrevo-me a olhar no espelho e me assusto, uma interrogação enorme aparece diante dos meus olhos – Afinal quem é esta refletida aí na frente? Tão diferente do que eu sabia ser, uma versão minha ao avesso e totalmente aversa ao que sempre fui e fiz. Como pode acontecer isso? Quem deu força a esse vento para que passasse por mim assim tão intenso que fosse capaz de virar-me pelo avesso? E agora o que faço com essa minha face que nunca antes tinha visto, nunca antes aprendi seus gostos e desgostos, seus modos, seu sofrer e seu prazer? Quem é esse outro eu que sou obrigada a encarar todos os dias 24 horas e que me apavora de tão desconhecido que é. Ninguém me ensinou a lidar com essa mulher, ninguém me disse o que fazer desses sentimentos todos que ela tem, com essas crises de choro, com esse amor gigante que tem para oferecer ao mundo. O que eu faço com tanto amor? Nunca soube amar direito, antes , amor era o que me pediam e como eu julgava não tê-lo, não me preocupava em caçá-lo dentro do peito. Agora amor escorre pelas minhas mãos, meus olhos, minha voz e eu me perco toda, me confundo, não sei para onde mando, para quem eu dou ou se o retenho todo comigo.
Quem é essa estranha que já existia dentro de mim? Por que agora ela resolveu me tomar posse como se fosse um encosto desses que dominam a mente, te fazem agir de um jeito que você não quer, não te agrada e mesmo assim não controla? Não há padre, nem exorcista qualquer que seja capaz de reverter a coisa? Eu me quero de volta!
Drika Gomes
Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti.“
ResponderExcluirJosé Luís Peixoto
Vaidosa. Não podia passar por um espelho sem nele se mirar. Não, não compunha o cabelo, não retocava a pintura. Nada desses gestos vulgares de fêmea em sedução. Olhava-se e começava a falar baixinho. Afastava-se e acenava leve, levemente. Depois, aproximava-se mais, mais. Até tocar a superfície fria, com as mãos, com a ponta do nariz. A tentar sobrepor-se à imagem. No espelho começava a opacidade de um círculo que lhe saía da boca e lhe tomava conta de parte do rosto. Nas palmas das mãos, a lâmina polida amornava. Um toque suave de um encontro esperado. Olhos bem abertos, quase dentro dos outros, dos iguais, do outro lado. Onde?
ResponderExcluirEle um dia perguntou-lhe: Que procuras? Apanhada de surpresa, afastou-se, compôs a figura e disse: Nada. Jura que ouviu a outra, também a afastar-se, dizer: Tudo.
Vaidosa?
Licínia Quitério
bjos migona!