Pular para o conteúdo principal

Enroscados



.

.

.



Essa sua sombra que me atravessa a alma - Como pode saber  tanto de mim que nem sei quem sou? - E me transpassa, me adivinha e me persegue como se eu fosse sua própria continuação, sua extensão, algo preso que fica de fora, mas  que é como se fizesse parte do seu dentro. Eu entro. Me misturo nessa fusão de eu e você e sinto-me outra. Ainda sou a mesma. Você tem as duas.


Me reconheces como se olhasse seu reflexo e eu te observo como se me enxergasse pelo avesso, o meu avesso mais escondido, camuflado, mas absolutamente vivo e latejante no meu peito. Você revela meus segredos que nem contei pra mim.

Somos correnteza da mesma água, vendaval nascido do mesmo sopro. Nos misturamos sem perceber que é invasão.



Mas é exaustivo ser eu-você. Quero apenas ser eu mesma pura e sólida, única e inteira e andar lado a lado com o seu eu sem mim.


Drika Gomes

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nas teias

Ainda envolta nas teias do meu pensamento… Esse emaranhado tão bem traçado que eu sei, quer me levar para algum lugar, mostrar alguma direção. É mistério. Eu espero. Sinto. Ouço. Duvido. Chove quase sempre, é noite. Meu horizonte vazio, somente enxergo essas teias e tento encontrar a lógica. Não quero o meio de nada, procuro as extremidades. O centro me puxa como um imã  atrai  metal. Fujo. Esforço-me. Ainda não cansei. Estar no meio é ser alvo fácil. É morte. Sou a vida tentando escapar da armadilha. Drika Gomes

A casa de vidro

Ela não permitia invasões por isso ergueu um muro sólido e com cercas elétricas. A impenetrabilidade era sua maior arma. - Aqui nada entra sem permissão e só sai o que eu desejar. Na vizinhança haviam propriedades de muros baixos, outras apenas protegidas por uma frágil e ornamental cerca de flores, haviam também as que eram totalmente abertas, apenas um gramado na frente da porta principal, como se fosse um tapete de boas vindas para qualquer pessoa sentir-se convidada a entrar. Ela sentia-se indignada com tamanha falta de precaução e ingenuidade daquelas pessoas, em sua concepção era um erro fatal deixar-se vulnerável, era como ser ostra fora da concha, guerreiro sem armadura. Quanta burrice! Observava de sua janela, lá no alto, onde tudo podia assistir, pessoas entrando e saindo das casas vizinhas, uns entravam alegres e saiam gargalhando, outros entravam tristes e saiam sorrindo, as mesmas pessoas e pessoas estranhas. Tanta gente… Ela ali no seu mundo, sozinha, apreciava s...

Quem resiste?

Quem resiste, quando insiste? O ponto precisa da reta A letra precisa da frase O poema, do poeta... Quem resiste? O gesto necessita da mão O vaso do artesão A flor, do seu botão... Quem resiste?