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Mostrando postagens de 2020

Fumaça

Chegou às minhas mãos de forma surpreendida Minha pele nem mesmo sabia o que segurava Penetrou-me Enraizou-se nas minhas veias Emaranhou-se Formou teias Transpirou dos meus poros Evaporou Virou etéreo? E para onde foi? Mistério. Tornou-se parte minha Uma parte que vive de ausência E ando com as mãos estendidas Procurando Encontrando Mas me escapa por entre os dedos Como descobrir seus segredos? Virou fumaça.

Sou...

Não gosto de cara amarrada, sou palhaça. Não como buchada de bode, sou aversa! Se você senta na janela, sou quem passa. Se se cala eu fico puta! sou de conversa. Não tenho muitos amigos, sou seletiva. Não gosto de insinuações, sou verdadeira. Quem me magoa, eu esqueço, não sou vingativa. Quando amo é pra valer, não de bobeira. Não abro mão dos meus sonhos, sou obstinada. Não vivo sem uma motivação, sou apaixonada. Não sei disfarçar o que sinto, sou transparente. Não me importo com a opinião alheia, sou indiferente. Não julgo as pessoas que erram, sou imparcial. Não sou melhor que ninguém, sou normal. Nem sempre sou compreensiva, sou de opinião. Não tente ler meu pensamento, sou confusão. Não sou propriedade de ninguém, pertenço ao vento. Não queira cortar as minhas asas, sou sentimento.

A voz que grita no amanhã

Tem tanto chão pela frente e sou alma que olha para o futuro e se seguro suas mãos é para que corra comigo, sentindo o vento bater no rosto com a leveza de dois pássaros que escolheram olhar para o mesmo horizonte... Era tão livre essa viagem, era tão leve sua companhia... De repente meu coração que batia ritmado nos nossos passos lado a lado, passou a acelerar e meus pés ficaram pesados, já não conseguiam seguir em frente, me vi andando para trás, ombros doloridos pelo peso do seu passado que você deixou entrar. Estou cansada. Olho para frente e o futuro me chama. Ainda seguro suas mãos e esses fantasmas estão famintos querendo me engolir. Não nasci para carregar malas! Nem as minhas e nem as de ninguém. Ouço e atendo a voz que grita no amanhã. Sou filha do que ainda está por vir. Meu destino está no orvalho que guarda as surpresas do futuro.

Ressuscita-te!

É caótica a inércia de quem cala A garganta enjaulada grita sem ter voz Por dentro o eco explode - tiro de bala Silenciosa é a perda da alma Engolindo farpas com tanta calma... No meio de tudo um imenso orifício um vácuo de fúria ignorada rastejam pedaços enegrecidos, antes vibrantes e vivos! Tira a venda dos olhos! Assiste teus monstros no chão! Não tem piedade?  Estende a tua a mão! Ressuscita-te! Sai da escuridão!

Vênus

Sorva-me Viva-me ou coma-me! Vim para saciar-te a fome que te traz suspiros arrepios  e paixões. Vim para te causar comichões, então não me ignores! Te dou prazeres e sabores... Experimenta! Ás vezes ardo como pimenta, outras sou puro mel... Posso ser seu paraíso  ou sua doce punição. Vem e degusta da fruta da árvore da perdição que Eva ofertou a Adão.

Mercúrio

Vou entendendo a forma da coisa vejo surgindo algum significado do emaranhado escuro,  escondido,  abstrato... Vou decifrando o secreto simbolismo, me ajustando no esquema do esquadro, passeio nos códigos  e cifras  entre retas e traços. Vou construindo um universo ordenado onde nascem as figuras, letras e movimento. Sou a voz que ecoa versos, Sou as mãos que moldam o barro, Sou a luz do pensamento, Sou o volante do seu carro.

Quem resiste?

Quem resiste, quando insiste? O ponto precisa da reta A letra precisa da frase O poema, do poeta... Quem resiste? O gesto necessita da mão O vaso do artesão A flor, do seu botão... Quem resiste?

Grito

Solta a alma, solta... Ela quer mostrar que vive Põe pra fora as bolas de fogo Senão o fogo faz revide Grita! Mesmo que ninguém ouça. Grita! Pra não ficar louca.

Nirvana de Erotes

Pelas linhas das palavras  vejo as entrelinhas  apertadas e obscuras, pedem segredo... Cada toque lanceta o medo. Sou o sussurro da canção, uma voz rouca na escuridão, nosso doce enredo... Luas de paz nos esconderijos e vãos, entrando e saindo  entre pernas e mãos. Em desatino tomada, eis que num gesto forte me lança cega aos deuses, Nirvana de Erotes. Por lá deslizo num carpete felpudo, te tomo por dentro  frágil e desnudo. Ali não se adormece, somos filhos do vento, me encaixas em seus espaços, te dou lugar nos pensamentos.