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Mostrando postagens de agosto, 2009

O peito secou

Esse peito aqui está seco, não é o seco do leite que amamenta, é o seco do sentir que acalenta. Secou. Todo o líquido quente que jorrava agora encontrou a estiagem, época de seca e está rachando, mas não me dói. Antes doía quando cheio e farto. Ficou um oco, um vazio sem veias, sem conexões nervosas, nesse buraco nasce gelo, aos poucos e o congelar me acalma, me faz forte e dona de mim. Eu quente não me pertenço. Fria sou minha, sou razão, inteligência e domínio. Quente sou vulnerável.   Drika Gomes

Minha pérola

Comecei a me fechar, pois ao me abrir além de não ser percebida, sou vulnerável. Fecho meu casco, assim não me conheces mais e evito ser machucada. Deixe-me só, agora apenas recolho todos meus gestos e modos que de tão intensos não cabem no seu mundo egoísta. Prefiro caber-me totalmente e completa em mim mesma. Ser borboleta que volta ao casulo por não encontrar espaço para voar. Ave que não bate as asas porque lhe falta o ar, arco-íris que desbota porque o deixaram de notar. Aqui dentro, fechada, sou fria, sou razão. Nada entra e nada sai, mantenho preservada minha pérola, talvez um dia a deixe sair, mas apenas, somente apenas quando souber o real valor que ela tem. Drika Gomes

Pedi ao vento

Eu pedi que um vento te trouxesse, mas nem sei se pedi direito, talvez tenha pedido tão depressa que pudesse ter atravessado as palavras, ou tão lento que entre as sílabas ficassem espaços não preenchidos, dando assim um significado outro, quem sabe totalmente inverso daquilo que eu desejava. E passou um vento, muito estranho, soprava quente e ascendente e subitamente tornava-se frio, indo em direção contrária, era como se o vento não conhecesse seu caminho. Me chamou a atenção toda aquela instabilidade, algum encanto mesmo que insano tomou conta do meu olhar e dos meus sentidos. Fui invadida. Permiti. Me perdi. Descobri com o tempo que andar perdida é minha forma mais confusa de me encontrar e ao teu lado vou me perdendo e me encontrando num ritmo de valsa e muitas vezes de salsa, mas sempre num movimento constante que não permite que meu peito sossegue, nem que meus pensamentos repousem por um tempo que me faça entediar. Sei lá, vai ver que eu pedi certo ao vento, pois de alguma form

Maremoto

Aquele mar era tanto e intenso... Para onde as ondas tempestivas a levavam? Já não encontrava mais espaços para um suspiro de alívio, ao final de cada tormenta surgia apenas um vislumbre de calmaria, as águas pareciam descansar. Breve engano. Sua alma novamente se agitava num súbito maremoto. Coração batendo atordoado, sangue borbulhando nas veias e aquela vontade quase insuportável de abandonar embarcação. Quisera criar asas, subitamente, soltando um grito libertador atravessado na garganta e lançar-se num vôo sem rumo, onde não existisse tamanha incerteza e desespero. Mas não tinha asas e não havia mágica que a fizesse voar, a sua realidade era o mar, aquele mar, profundo e instável que lhe tirava a calma e fazia seu espírito tremer de dor, aflição, paixão e prazer. Não, ela não nasceu para os ares. É fígura mítica, metade sereia, metade dragão. Nasceu para os mares de emoção. Drika Gomes

Sangrando

Ferida que arde, chora o sangue da dor repetida Mesmos traumas mesmos gestos mesma brutalidade fincada sem piedade e não há cura para feridas que insistentemente são arranhadas, sangram... Drika Gomes   . . "Mas devo dizer que não vou lhe dar O enorme prazer de me ver chorar Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago Meu peito tão dilacerado."   Chico Buarque    

A Carta

Olá, como vai você? Faz tanto tempo que não te encontro. Não sei mais nada de você. Antes, me lembro bem, costumávamos ser confidentes, você sempre me dizia tudo que se passava contigo e eu amava te ouvir, adorava suas histórias loucas, muitas delas hilárias, outras um tanto trágicas, mas sempre incríveis e cheias de vida. Sinto saudade disso, sabia? Hoje você anda tão ausente... Se esqueceu de mim? Me pergunto se é feliz, se conseguiu ser a profissional que desejava, fazer aquele curso, se formar e tornar-se uma escritora conhecida. Sabe, sempre ando pelas livrarias, ainda não vi nenhum livro seu... Me pergunto se encontrou aquele grande amor que tanto te ouvia dizer que queria, que o homem dos seus sonhos tinha que ser alguém tão intenso e cheio de vida quanto você. Será que o encontrou? Fico imaginando se você ainda gosta de sair por aí sozinha, entrar nas livrarias e ficar ali alienada em pleno êxtase, ainda faz isso? Você ainda costuma ir visitar aqueles seus amigos divertidos com

Olha-me, se for capaz!

Olha profundamente nos meus olhos, não, não os desvie... Permanece. Arrisque-se! Veja o que acontece. Homens fogem, se escondem, embora não resistam ao desejo de me olhar. Pois é, medrosos... Afinal, posso os petrificar. Sei que não tenho boa fama, sou conhecida pelas minhas façanhas, meus desvarios, porém nada posso fazer. Sou assim, minha natureza grita em cada póro e não mudo, não sei ser diferente desta que te pede para olhar-me. Mesmo que signifique sua perdição, sua total ruína, Olha nos meus olhos, dentro deles certamente encontrará motivos para desejar morrer de amor.     Drika Gomes

Na minha pele...

Na minha pele teu cheiro depois de uma noite intensa de amor, impregnando meus poros, penetrando minha alma e entranhas... Teu cheiro, teus pelos espalhados, misturados com os meus. A cama ainda quente, os lençóis amassados denunciando nossos laços e abraços. Ah... teu gosto ainda sinto na boca, o sabor de cada centrímetro do teu corpo e tua saliva ainda comunga com a minha e com minhas curvas e reentrâncias que tão bem conhece. Ainda tem você aqui, saiu pela manhã e fechou a porta, mas deixou-me acompanhada do aroma dos nossos corpos colados...

Não caibo mais em ti...

Não caibo nesse contexto pacato de moça virtuosa, bela dama hipócrita de uma vida comum, sem tempero, com gosto de água e sal Sinto falta da pimenta, da noz-moscada, do açafrão! Não caibo mais nessa cama de casal apertada, meus espaços pedem espaço, meus vãos pedem carícias e meus orifícios -Penetração! Não caibo mais na rotina, nos modos suaves, nos mais sins do que nãos! Não caibo mais nessa vida que inventei num acidente de concentração, pois agora desperta do meu sono pesado estou cada vez mais certa da minha vocação. Sou alma errante no mundo, meu viver é profundo, é grande minha extensão. Eu só me encaixo direito se bato dentro de um peito que extravasa paixão. Só caibo numa imensa cama que dia e noite inflama e faz tremer os meus sentidos, apenas caibo num mundo que me balance ao ponto de arrancar-me gemidos!

Vou te exorcizar

Por que não some logo da minha vida? Vai, a chave tá na porta e nem precisa fingir que se importa com o buraco que deixou Vai, tira esses olhos de mim Eu não preciso de pranto Tô quieta no meu canto Isso vai ser mesmo assim Pega sua falta de vida e joga na rua Junto com essa tua ferida que não cura Tô cansada de tanta ladainha Leva essa covardia embora que a coragem é minha! E não vem depois me procurar dizendo que cometeu engano porque eu vou te exorcizar do meu mundo vivo e profano.

Navegar é preciso...

Um pouco de sanidade, momentos... Aqueles que chegam após uma longa e cansativa batalha, a batalha interior que travamos e isso nos esgota. Quero a brisa no rosto, cheiro de maresia, ver gaivotas e sonhar... Por trás de tanto mar ainda há lugar para mais um sonho, lugar para meus devaneios e meu jeito torto de ser. Com certeza há espaço para meus passos largos e firmes e para toda a minha sede de existência, de existir em uma vida intensa de cores, amores, sabores... se não for demais não me serve o de menos, o minimismo cansa, a rotina enjoa, a ausência de fervor me apavora. Fico mais um pouco aqui, mas não serenamente como quem aprecia a paz, mas inquieta e repleta de desejos loucos, pensamentos absurdos e secretos vindo da minha alma errante e indelével. Aqui dentro mora uma natureza que desconheço, com tantos mistérios e labirintos que muitas vezes me assustam, mas me deixam profundamente apaixonada. Essa minha alma devassa e fascinante que me conduz, por mais que queira um porto,

A duvidosa...

Você diz que eu sou duvidosa, Que uso toda essa prosa Só pra te enrolar. Reclama da blusa e da saia, Se eu vou sozinha na praia E do meu jeito de andar. Diz que eu gosto de aparecer, Que te faço enlouquecer Só pra te provocar. E que se eu olho pro lado, Já fica desconfiado Pra onde vai meu olhar. Mas eu sei que você me adora E que a gente não ignora Essa vontade de amar. A gente sempre reclama, Mas é na nossa cama Que isso vai terminar. É nos seus braços meu ninho, Mas não sou passarinho De se engaiolar. Tenho uma alma que é livre, Sou viva e quem vive Necessita voar. Quem ama fica junto porque gosta, Não é uma coisa imposta Que vai me segurar. Não se espante com minha asa, Ela sabe o caminho de casa Pra quando quiser voltar.

Não me conhece

Sou a forte ventania vinda de algum canto do mundo, de algum lugar vibrante e profundo, pronta para causar desordem, fazer estragos, tirar tudo do lugar. Deixa a janela aberta se me aceitar, mas não adianta sentir medo, depois que eu entrar nada pode impedir meu livre domínio. Te ponho de ponta cabeça, faço tudo parecer caos. Vais se achar no inferno, mas mesmo assim permanecerá no mais completo êxtase... De repente, viro uma brisa suave e morna, agradável o suficiente para te acalmar o peito e verás minha outra face, que embala e afaga, mas não permaneço a mesma por muito tempo. Esteja atento! Minha instabilidade é nata, antes que você perceba uma fúria me arrebata. Em teus olhos medo e admiração, sim, agora sou furacão!