Nem vem, não me peça, não me exija mais o caldo doce que permiti escorrer da minha alma. Meu néctar reservado e escondido. Tudo que nunca quis oferecer, que jamais permiti transparecer, agora não adoça mais. O mel petrificou no fundo do pote e não quero que derreta para que não volte a derramar-se. Deixo apenas que escape um aroma sutil lembrando a existência de uma doçura quase imperceptível. Assim como o doce que quase se sente nos perfumes cítricos, assim como o doce quase não encontado no sabor de um morango.
Doçura demais enjoa. Serve para curar uma ressaca ou vira bolo de festa esquecido na geladeira. A verdade é que mel não foi feito para ser alimento de nenhum ser humano e nem é bom que as pessoas sejam melosas porque viram uma meleca grudenta que ninguém tolera por muito tempo.
Azedume completo também é intragável. Não dá pra chupar limão fazendo cara de felicidade, mas se colocar um poquinho de açúcar fica com sabor de limonada e disso todo mundo gosta.
Por isso que meu pote de mel anda muito bem guardado, obrigada. E por lá permanecerá até o fim dos meus dias. Descobri que melada só posso ser comigo mesma e mesmo assim com restrições. Aos outros, nem mesmo uma gota descuidada. Meu sabor azedo de outrora rebelou-se com o adocicado de tempos atrás e hoje transformou-se num morango quase vermelho.
Drika Gomes
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