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Duas faces

É porque eu sinto o coração como se dentro houvesse uma sinfonia de tambores tocando num tom harmônico que saem dos meus olhos essas faíscas e da minha voz essas nuvens com pingos de até-quando-isso-vai-durar? E é porque você encontrou dentro de mim o caminho que me levava àquela casinha feita dos meus risos de criança, do cheirinho de pão assando no forno, do circo, do balanço e do pular cordas que eu fiquei assim com essa cara de quem quer bater asas porque pensa que é borboleta. É porque de tanto me levar pro inferno, me habituei com com aqueles monstros e tormentos que me esqueci de como era o paraíso, e agora? Os anjos me cercam falam uma língua da qual não tenho intimidade, isso às vezes é tão confuso que sinto uma saudadezinha mórbida de dar uma olhada lá no buraco da fechadura do inferno. É porque uma estranheza doce tomou conta do meu chão áspero e eu me sinto escorregar, sim, é gostoso, confesso, mas dá um medo! É porque esse fogo que ardia tão cripitante me tirava o sono e me dava olheiras que hoje me espanto: O fogo ainda arde cripitante, mas todas as noites fecho os olhos e sonho e quando desperto encontro no espelho uma mulher igual, mas tão diferente. Acho que toda mulher tem duas faces.

Drika Gomes

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