A voz de um olhar
Estava ali naquele bar, entre um gole de capuccino e umas folheadas naquele livro antigo, ele passou por mim. Tão lento que deixou seu cheiro penetrar na minha pele e tão rápido que nem tive tempo de decifrá-lo. Escondeu-se entre aquelas pessoas estranhas no fundo, sentou-se a mesa e parecia nem olhar para o mundo, mantinha o olhar fixo em algum ponto vazio do espaço e vez ou outra observava a fumaça do seu cigarro. Eu queria saber o que ele poderia estar pensando, não devia ser em algo bom porque franzia a testa como quem lembrasse de uma cena revoltante e em seguida soltava um suspiro. Ali de longe eu observava atenta aquele adorável estranho e sentia-me muito a vontade porque ele nem se quer notara meu olhar curioso e detalhista, ele estava tão entregue a seus proprios pensamentos que era como se tudo ao seu redor não existisse. Voltei a folhear meu livro por alguns instantes e quando voltei meu olhar àquele estranho fui pega de surpresa. Ele olhava para mim. Prendi a respiração, mas mantive meus olhos em contato com os dele. Ele me olhava firme e sério como se me perguntasse: Quem é você que se atreve a querer me desvendar? Não suportei tanto e desviei meus olhos, voltei a folhear as páginas, já totalmente perdida. O vi novamente passar por mim, deixando seu cheiro novamente em minha pele e quando ele saía do bar, antes de passar pela porta, voltou seus olhos aos meus, só que desta vez, como se convidasse meu olhar a encontrar com o dele outro dia.
Drika Gomes
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