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Suéter azul

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Fazia frio e aquele vento que soprava em seus cabelos trazia-lhe o cheiro das memórias quase esquecidas. Um aroma úmido que congelava-lhe a face enquanto aquecia o coração. Sensações do que já fora e a saudade de um tempo em que em pleno inverno tudo era quente, ardente e cripitante.

Ela podia lembrar-se da maciez daquele suéter azul, do perfume suave de roupa limpa, da cor dos olhos dele em contraste com o verde daquelas folhas no parque. Caía uma fina garoa naquela tarde fria, ela tremia mesmo estando envolta nos braços dele e aquele suéter azul pousou nos ombros dela, assim como o sol quentinho aparece quando a espessa nuvem se esvai. Sairam às pressas para protegerem-se do frio, ela sempre nos braços dele. Chegaram ao carro e o beijo aumentou a temperatura de seus corpos. Depois daquele jantar seguidos de vinho e uma noite de amor, deixaram-se. Ela sabia que podia ser para sempre e enquanto seu coração chorava mantinha seco seu olhar, lágrimas não resolveriam, tudo que ela mais queria era manter aqueles momentos na memória como suas jóias preciosas, as lágrimas manchariam a beleza de tudo que ela já havia guardado. Um beijo com sabor de adeus e tudo que ela mais amava viu caminhando para longe de seus braços. Dele o que ficaram foram as lembranças e sobre seus ombros, o suéter azul.

Drika Gomes

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